sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Pequenos Agricultores e Povos Indígenas: A verdadeira briga não é entre vocês

Por: Manuel Rozental
Esse é um chamado urgente a la unidade entre povos indígenas e pequenos agricultores no Sul da Bahia para encontrar o caminho prático da paz e unidade a partir da declaração:  “Unidade por Terra, Território e Dignidade!”

A confrontação entre os povos indígenas e os pequenos agricultores, serve exclusivamente aos interesses do agronegocio, as grandes transnacionais, a sua intenção clara de gerar uma guerra absurda entre os explorados e as vítimas dos usurpadores e destruidores dos povos e das terras. Essa é uma verdade reconhecida na historia de nossos países Latino- Americanos. Porem, os usurpadores dos territórios, os especuladores com as terras, os exploradores do trabalho escravo dos camponeses e indígenas e os que concentram de maneira ilegítima a propriedade da terra, com o apoio ou a negligencia do Estado, promovem a inimizade entre os “Trabalhadores e Trabalhadoras, Povos do Campo, das Águas e das Florestas” com o propósito de gerar ódio e derramamento de sangue, aprofundar a divisão e desunião dos povos e continuar assim com seu projeto de concentração da propriedade da terra e despejo.

O dia 22 de Agosto de 2012, é uma data histórica para os “Trabalhadores e Trabalhadoras, Povos do Campo, das Águas e das Florestas” do Brasil, e do Continente Latino Americano. Nesta data foi aprovada e publicada a Declaração “Por Terra, Território e Dignidade!” . Um documento que, depois de fazer lembrança das lutas dos explorados do campo e da terra, e um analise certo da realidade do campo, estabelece compromissos claros e uma plataforma de unidade e de luta comum no século XXI, para indígenas, camponeses e todas e todos os moradores do campo, das águas e das florestas, frente ao inimigo real; o agronegocio. Nesse sentido o documento explica:

“Este projeto, na sua essência, produz desigualdades nas relações fundiárias e sociais no meio rural, aprofunda a dependência externa e realiza uma exploração ultrapredatória da natureza. Seus protagonistas são o capital financeiro, as grandes cadeias de produção e comercialização de commodities de escala mundial, o latifúndio e o Estado brasileiro nas suas funções financiadora – inclusive destinando recursos públicos para grandes projetos e obras de infraestrutura – e (des)reguladora da terra.(…)

Este projeto provoca o esmagamento e a desterritorialização dos trabalhadores e trabalhadoras dos povos do campo, das águas e das florestas. Suas conseqüências sociais e ambientais são a não realização da reforma agrária, a não demarcação e reconhecimento de territórios indígenas e quilombolas, o aumento da violência, a violação dos territórios dos pescadores e povos da floresta, a fragilização da agricultura familiar e camponesa, a sujeição dos trabalhadores e consumidores a alimentos contaminados e ao convívio com a degradação ambiental. Há ainda conseqüências socioculturais como a masculinização e o envelhecimento do campo pela ausência de oportunidades para a juventude e as mulheres, resultando na não reprodução social do campesinato.”

Tristemente, e contrariando as verdades pranteadas nessa Declaração pela Dignidade, no Sul da Bahia, os “Pequenos Agricultores” confrontam abertamente aos povos indígenas a quem chamam  de “supostos índios”, “invasores”, “ladrões de terras” entre outras. Na mesma data, 22 de Agosto, no Aeroporto Jorge Amado de Ilhéus, ignorando os ensinos da historia, o processo e o conteúdo da declaração pela dignidade, intimidaram e provocaram a qualquer –um com aparência indígena.  Os representantes dos “Pequenos Agricultores” ainda hoje continuam nessa pratica que já tem mais de 10 dias gerando tensão, divisão e alimentando ódios, para beneficio dos exploradores dos povos e das terras. Simultaneamente, a “Associação de Pequenos Agricultores de Ilhéus, Una e Buerarema”   liderada  por Luiz Henrique Uaquim, vem fazendo reuniões e desenvolvendo estratégias para fomentar divisões e ódios e impedir uma solução ao conflito real, que respeite e reconheça na realidade os direitos comuns dos camponeses e indígenas frente aos interesses dos fazendeiros e do agronegocio.

A verdade é que a demarcação dos territórios indígenas, a reforma agrária e a proteção dos direitos dos pequenos agricultores não são, como bem reconhece a Declaração “Unidade por Terra, Território e Dignidade!” propósitos opostos, mais sim, complementários e fazem parte duma luta comum dos povos. Os opositores da demarcação e do reconhecimento dos direitos dos pequenos agricultores, com o apoio por ação u omissão do Estado da Bahia e do Brasil, são os grandes latifundiários e os representantes do agronegocio.

Nesse contexto, essa carta aberta tem o propósito de convidar aos pequenos agricultores e as povos indígenas, com o apoio das organizações, movimentos, povos e processos que assinaram e assumem a palavra da declaração  “Unidade por Terra, Território e Dignidade!”, a iniciar de imediato, um processo de dialogo e articulação no propósito de procurar uma agenda comum entre indígenas e pequenos agricultores, para estabelecer desde o reconhecimento e respeito mútuos um acordo que possibilite a convivência entre eles e a luta com e pela Terra.

Manuel Rozental
Povos em Caminho
Tecendo Resistências e Autonomias entre
Povos e Processos.

Fonte: Indios Online


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