quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Jovens Indígenas: identidade, mudanças e esperanças


Começa hoje em Nova York a reunião a reunião de grupo de experts com o tema: Jovens Indígenas: identidade, mudanças e esperanças: Artigos 14,17,21 e 25 da Declaração das Nações Unidas sobre Direitos Indigenas.

Os experts são os jovens que representam as várias regiões do mundo:
Latino América e Caribe-Tania E.Pariona Traqui
Pacific- Steven Brown
Europa oriental, Russia , Asia Central e Transcaucasiana- Igor Yando
America do Norte Andrea Landry
Asia Meenakshi Munda
Africa- Matuna R. Niwamanya.

O objetivo é pressionar e forçar o Forum Permanente e os Estados Membros da ONU para as condições em que vivem os jovens indígenas do mundo.São aproxidamente18% da população mundial

Nesse primeiro dia o tema foi identidade baseada fortemente na questão preservação das línguas nativas como fator preponderante para a manutenção desta.
Pessoalmente penso que isso é muito limitado, pelo fato que não falamos mais de uma única identidade mas de várias, resultado da super modernidade, a língua é um dos fatores , mas não o mais importante, se pensarmos assim,  isso pode gerar até um tipo de preconceito em relação aos próprios indígenas, veja o caso dos concursos dirigidos a eles, aqueles que são indígenas e não mais falam a língua, automaticamente estão excluído.  Claramente é um preconceito, pois a identidade inidgena esta em seu autoreconhecimento.

Outro tema tocado foi o suicídio, o jovem, principalmente o que representa o ártico, fez um depoimento com voz embargada. “O fato de estarem fora de todas as possibilidades que a sociedade ocidental apresenta os faz se sentirem um NADA, e sendo assim porque viver”?
A questão do preconceito da sociedade ocidental, a falta de escolaridade e de qualquer formação faz com que esses jovens se sintam mais a margem do que qualquer população. Mais uma vez acrescento que o problema é mais complexo, o fato de estarem no meio de duas sociedades, de serem rejeitados tanto interna quanto externamente e estarem criando um “novo” lugar social-os jovens solteiros, faz com que representem um momento de transição, e esse sentimento carrega a percepção de um não pertencimento.

Bom amanhã continuaremos nessa reunião e traremos mais pontos a serem discutidos.

Maria de Lourdes Beldi de Alcantara - Antropóloga Post-PhD
Representante da IWGIA

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Indígenas permanecerão em fazenda no município de Dourados até perícia topográfica

Para o MPF, há fortes indícios de que a área pertence à Reserva Indígena e foi ocupada irregularmente por fazendeiros
O Ministério Público Federal (MPF) e a Fundação Nacional do Índio (Funai) conseguiram a suspensão de uma ordem que determinava a retirada de indígenas que ocupam uma área na fazenda Curral de Arame, em Dourados. Os índios permanecerão por mais 120 dias, até que haja perícia topográfica e antropológica, que determinará se a área pertence à Reserva Indígena de Dourados. A decisão, pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3), cassou a liminar da Justiça Federal de Dourados, que determinava a retirada dos indígenas do local.
São 47 famílias fixadas na fazenda desde 2011, em uma área de 26,9 hectares, onde elas mantêm plantações com culturas diversas, como milho, mandioca e abóbora. Para o MPF há fortes indícios, baseados em documentos oficiais, de que o local ocupado pelos índios faz parte da Reserva Indígena de Dourados, que teria sido repassada a terceiros pelo próprio Estado.
Reserva 
A Reserva Indígena de Dourados foi demarcada com 3.600 hectares, através do Decreto Estadual nº 401, de 3 de setembro de 1917. Ao longo do tempo, sofreu um processo histórico de diminuição de sua área, sendo registrada em 1965 com 61 hectares a menos. O título definitivo de propriedade, expedido em 26/10/1985, manteve a redução, e a área total ficou com 3.539 ha.
Hoje, apenas 3.467 hectares estão na posse efetiva dos indígenas, ou seja, após a titulação houve nova perda de área, equivalente a 72 hectares. Foram 133 hectares da área original transmitidos a terceiros ou ocupados de forma irregular.
A Reserva abriga 13 mil indígenas das etnias guarani-kayowá/ñandeva e terena. Localiza-se na zona norte do município de Dourados, a 3,5 km do centro urbano e é considerada uma área de confinamento humano, sendo a reserva indígena mais violenta do país.
Mato Grosso do Sul tem a segunda maior população indígena do Brasil, cerca de 70 mil pessoas divididas em várias etnias. Apesar disso, somente 0,2% da área do estado é ocupada por terras indígenas. As áreas ocupadas pelas lavouras de soja e cana são respectivamente dez e trinta vezes maiores que a soma das terras ocupadas por índios em Mato Grosso do Sul.
Fonte

Surto de virose causa mortes de crianças indígenas


Um surto de virose em uma aldeia da etnia hupda, no município de São Gabriel da Cachoeira, região do Alto Rio Negro (AM), causou a morte somente neste mês de duas crianças indígenas. Há informação de que pelo menos outras 13 crianças estão doentes. Os hupda, conhecidos de forma pejorativa como maku, muito preocupados, solicitaram urgência no atendimento de saúde na aldeia Taracuá-Igarapé.
No último dia 18, Marcelino Massa, funcionário da Associação Saúde Sem Limite, enviou um ofício ao Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena (Dsei/RN) do Alto Rio Negro, com base em relato de Jovino Pinoá, agente indígena de Taracuá-Igarapé. No ofício, Marcelino afirma que as crianças morreram de vômito e diarréia e informa que a aldeia vem registrando casos de virose. “Precisamos urgente muito da equipe de saúde”, pede Jovino, que também se queixa da dificuldade de comunicação com a coordenação do Dsei. Por isso, justifica ele, o relato foi dado a Marcelino Massa.
Curiosamente, o único instrumento de contato que os moradores de Taracuá-Igarapé têm é um orelhão por meio do qual as lideranças da comunidade ligaram para o antropólogo Danilo Ramos, da Universidade de São Paulo (USP), que já desenvolveu pesquisa na comunidade. Os indígenas telefonaram e comunicaram as mortes e a falta de atendimento médico no local.
“A preocupação se agrava por não haver equipe de saúde nos pólos-base de saúde, pelos resgates de pacientes não estarem sendo feitos e pelo sistema de radiofonia de muitas comunidades não funcionar. Ano após ano, milhares de pessoas encontram-se periodicamente desassistidas nas centenas de comunidades às margens dos rios Negro, Vaupés, Içana, Xié e afluentes”, relatou Ramos, em um comunicado.
Discriminação
Conforme Ramos, que recebe ligações quase diariamente dos indígenas de Taracuá-Igarapé, não há gasolina para as embarcações transportar as equipes de atendimento às aldeias, não há remédios e equipamentos. A radiofonia, único meio de comunicação que havia com o Dsei/RN, está quebrado há mais de um ano.  
“A situação dos hupda é pior do que muitas outras comunidades indígenas do Alto Rio Negro. Há uma discriminação contra eles por conta do próprio sistema de saúde. Não há atendimento e quando há, ocorre apressadamente. É mais difícil de se chegar até a comunidade deles e isso gera dificuldade. Outro problema é que poucas pessoas hupda falam português. Há uma enorme dificuldade de compreensão e desconhecimento da diferenciação tradicional deles por parte do sistema de saúde e isso gera uma dinâmica de exclusão”, contou.
Segundo o antropólogo, a falta de acompanhamento contínuo entre os índios hupda resulta em registros elevados de desnutrição, viroses e mortalidade infantil. “Há dois anos houve desnutrição uma epidemia de coqueluche com mortes de criança, mas não havia voadeira para resgatar os doentes”, disse.
Atendimento
Na semana passada, o Dsei/RN passou a ter um novo coordenador, Alexandre Cantuária, que entrou no lugar de Luís Lopes. Antes de ser substituído, Lopes disse a Marcelino Massa que não havia recursos para comprar combustível para abastecer a embarcação que levaria atendimento à aldeia, segundo o agente indígena.
Conforme Massa, que é indígena da etnia dessano, a viagem em uma embarcação de motor 40 (lancha rápida) leva dois dias para chegar na aldeia.
A reportagem tentou falar com a coordenação do Dsei/RN, mas a informação que obteve é que o local não tem telefone fixo.
Procurada, a assessoria de imprensa da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), órgão do Ministério da Saúde, disse que no último dia 19, após a notificação dos dois óbitos, uma equipe se deslocou para avaliar a situação na aldeia e prestar atendimento. Duas pessoas com sintomas de diarreia estão sendo atendidas e que não há registro de surto da doença. A assessoria disse que equipes da Sesai visitam pelo menos a cada 30 dias as aldeias da região do pólo-base São José II, onde se localiza a aldeia dos Hupda.
A reportagem ligou para o número do orelhão da aldeia Taracuá-Igarapé e falou com um morador chamado Joaquim Socoti. Apesar da dificuldade de falar em português, ele disse que desde a ocorrência das mortes, “nenhum enfermeiro” de saúde apareceu na aldeia.
Foirn
A presidente da Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (Foirn), Almerinda Ramos, disse que as mortes de crianças hupda são muito preocupantes, assim como outros óbitos registrados nas demais aldeias do Alto Rio Negro. Ela afirmou que após a troca do coordenador do Dsei/RN, a Foirn vai acompanhar a atuação do órgão com mais rigor. Segundo ela, a troca foi fruto “da pressão do movimento indígena”.

Índios 'alugam' terras para exploração ilegal de madeira


Índios da Amazônia têm loteado e "alugado" terras para madeireiros desmatarem e retirarem madeira de forma ilegal -e a preços módicos.
A Folha identificou casos em ao menos 15 áreas indígenas (no Amazonas, Pará, Maranhão, Mato Grosso e Rondônia), com base em investigações da Polícia Federal, Ministério Público e relatos de servidores da Funai (Fundação Nacional do Índio).
Nas transações, madeireiros pagam R$ 15 pelo m³ da madeira, depois revendida por preços na casa dos R$ 1.000, de acordo com a PF.
Além de pagamento em dinheiro, os índios também aceitam aparelhos eletrônicos, bebidas ou até mesmo prostitutas, conforme relatos de funcionários da Funai.
A madeira ganha aspecto de legalidade pelo uso de planos de manejo aprovados legalmente para outras áreas. Chega assim ao mercado.
Fora da Amazônia, a prática é menos comum, por haver menos madeira disponível com interesse comercial.
As terras indígenas representam 21,2% da Amazônia Legal. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais apontam que o desmatamento ainda não chegou a grandes proporções nessas áreas -atingiu até agora 1,29%.
Além da madeira, também existem investigações sobre o envolvimento de índios na extração de minério.
SEM CONTROLE
Na terra indígena Anambé, em Moju, no Pará (a 266 km de Belém), relatório da Funai diz que os índios, após alugarem parte do território a madeireiros, acabaram perdendo o controle sobre a área.
O posto da fundação que ficava no local foi abandonado após um funcionário ter sido ameaçado por madeireiros. O local será reativado.
Uma das índias afirmou à Folha que a maioria dos índios era contra o loteamento. "A gente tenta mostrar que o desmatamento não é bom para nós. Mas mesmo assim tem muitos que vendem [a madeira]. Dinheiro vicia a pessoa", disse Maria Anambé, 36.
Relatórios de fiscalização apontam que a madeira do local é levada para Tailândia, polo madeireiro do sudeste do Pará e que foi alvo, em 2008, da Operação Arco de Fogo, do Ibama e da PF.
Em Mato Grosso, a PF detectou o problema em 2007 no Parque Nacional do Xingu, uma das maiores áreas indígenas do mundo.
A Justiça Federal chegou a bloquear bens de madeireiros. A decisão dizia que os índios "não só foram aliciados para facilitar a ação [...] como se tornaram agentes ativos e destacados na extração e comercialização de madeiras".
Em Rondônia, o líder indígena Almir Suruí, da terra Sete de Setembro, diz que já informou a Funai sobre a conivência de moradores de algumas das 25 aldeias da área.
"Eles falam que não podem mandar fiscalização porque tem índio envolvido. Se tem, para mim é bandido como quaisquer outros. Além de roubar o próprio povo, rouba um bem da União." 

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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

12ª edição dos Jogos dos Povos Indígenas

Cuiabá será sede da 12ª edição dos Jogos dos Povos Indígenas. Esse evento faz parte das Olimpíadas Indígenas que ocorrerão esse ano no período de agosto e setembro, durante dez dias. O idealizador do evento é o Comitê Intertribal – Memória e Ciência Indígena que contará com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) como principal organizadora local, apoiada pelo Ministério dos Esportes, Governo do Estado e a Prefeitura Municipal de Cuiabá. Esta será a primeira vez em que uma universidade atua diretamente na organização dos jogos.
Os jogos têm como finalidade “promover o resgate da tradição desportiva, a identidade cultural e o congraçamento dos povos de distintas etnias”, segundo documento oficial do evento. Dessa forma, são mantidas e fomentadas as práticas desportivas de criação nacional. É importante destacar, como nos fala Marcos Terena, diretor do Comitê Intertribal, que o “Jogos dos Povos não é um ‘campeonato de índios’, mas um resgate de tradições”.
A UFMT terá papel essencial na inclusão de toda a comunidade científica e acadêmica. Com essa participação teremos diversas áreas do conhecimento envolvidas na concepção dos jogos, ressalta o vice-reitor da UFMT, João Carlos de Souza. Esse contato direto buscará mostrar o valor dos povos indígenas brasileiros e debater o perfil do índio do século 21.
Para a realização do evento será construído um ambiente indígena no Jardim Botânico para, aproximadamente, 40 etnias, com as mesmas características e formações dos ambientes que residem. São esperados cerca de 1600 indígenas brasileiros. Além dessas etnias, serão convidados dois representantes de 16 países diferentes.
Como uma forma de inovar, a edição deste ano terá, além das amostras culturais, um espaço para exposição da literatura indígena e um Fórum Social Indígena com o objetivo de discutir as mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável. Essa edição também será a primeira a convidar indígenas de outros países com o objetivo de executar os primeiros Jogos Mundiais Indígenas. Outra novidade é a montagem de uma “Oca Digital” que transmitirá os jogos ao vivo para todos os países que tiverem representantes.
O evento tem um maior destaque ao ser realizado em Mato Grosso, pois é o segundo Estado do país que tem maior concentração de índios de diversas etnias e com linguagens divergentes, tornando um desafio o convívio em um mesmo espaço, destacam os organizadores.
Em reunião realizada essa semana na Universidade Federal de Mato Grosso esteve presente um grupo de trabalho responsável pela elaboração do projeto referente às responsabilidades da UFMT. A mesma contou com a presença do diretor do Comitê Intertribal - Memoria e Ciência Indígena, Marcos Terena, que compartilhou suas experiências nos últimos 11 anos de jogos, destacando pontos positivos e negativos para um aperfeiçoamento na edição deste ano. Para Marcos, há um ponto crucial, que não podemos esquecer ao realizar esses jogos: ter o cuidado de alcançar uma articulação do que é desenvolvimento sustentável e quem é o índio do século 21.
O lançamento oficial das Olimpíadas será no dia 19 de abril (Dia do Índio). Para as olimpíadas são esperados não só os atletas e líderes indígenas, mas também suas famílias.

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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Pesquisa relaciona trabalho nas usinas a casos de tuberculose em indígenas



A partir da pesquisa para identificar os fatores de risco para o desenvolvimento da tuberculose em pacientes indígenas de Dourados (MS), o artigo “Sugar cane manufacturing is associated with tuberculosis in na indigenous population in Brazil” foi publicado em 10 de janeiro de 2013 na revista britânica “Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene” (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23306443).

O artigo evidencia a relação entre o trabalho nas usinas de cana-de-açúcar e o desenvolvimento de tuberculose. A autoria é de Flávia Patussi Correia Sacchi (Faculdade de Ciências da Saúde – FCS e Hospital Universitário - HU da Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD), Mariana Garcia Croda (HU), Anderson Oliveira Estevan (FCS), Albert I. Koc (Epidemiology of Microbial Disease Division, Yale School of Public Health, New Haven, USA) e Julio Croda (FCS).

 

Todos os casos de tuberculose entre a população indígena, no período de junho de 2009 a agosto de 2011, foram incluídos nesse estudo e cada caso foi comparado com duas outras pessoas que não tinham tuberculose, chamadas de controles, com idades similares e residentes na mesma região geográfica. Foram incluídos no estudo 63 pacientes e a incidência anual de tuberculose nas comunidades indígenas foi de 222 casos para cada 100.000 habitantes, o que é considerado 6 vezes mais que na população não indígena.

Os resultados da pesquisa demonstraram que os fatores associados com o desenvolvimento da tuberculose nessa população foram: ser do sexo masculino, não possuir casa própria, analfabetismo, ter contato com alguém que tenha tuberculose e principalmente trabalhar em usinas de cana-de-açúcar.

De acordo com o artigo, os dados demonstram uma clara relação entre o trabalho nas usinas de cana-de-açúcar e o adoecimento por tuberculose entre as populações indígenas, ou seja, os indígenas que trabalham nestas usinas têm uma maior probabilidade de desenvolver a tuberculose quando comparados àqueles que não trabalham nestes locais.

Os resultados da pesquisa indicam que medidas de controle mais efetivas como triagem e oferecimento de exames periódicos para tuberculose deverão ser adotadas pelos empregadores e serviço de saúde municipal e estadual para o controle da tuberculose principalmente nas usinas de cana de açúcar.

TUBERCULOSE

A tuberculose é uma doença infecciosa e contagiosa, causada por uma bactéria conhecida como Mycobacterium tuberculosis e que pode acometer diferentes órgãos, sendo a tuberculose pulmonar sua principal forma.

A doença continua sendo uma das principais causas de mortalidade no Brasil, principalmente entre os povos indígenas. Para os autores do artigo, identificar características associadas ao desenvolvimento da tuberculose nessa população é fundamental para propor medidas direcionadas ao controle da doença.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Indígenas pedem delegacia na reserva de Dourados

Na Reserva Indígena de Dourados, lideranças reivindicam a instalação de uma delegacia. O assunto foi debatido no dia  22 durante uma reunião organizada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) com o objetivo de discutir a atuação das forças de segurança pública na localidade. Os delegados da Polícia Civil alegam enfrentar dificuldades para investigar os crimes e estudam a possibilidade de criar mutirões.
Segundo Lupércio Degerone Lucio, delegado titular do 1º DP, recentemente foi encaminhada pela Funai uma lista de contatos de lideranças para subsidiar o trabalho das polícias na busca por suspeitos e testemunhas que possam colaborar com as investigações.
Conforme Lucio, a hipótese da delegacia na Reserva já havia sido cogitada em reunião semelhante à de ontem, organizada na aldeia Bororó no ano passado. A partir dessa sugestão a polícia já discute a possibilidade de realizar mutirões de atendimento.
Fonte

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Em 2013 continuemos Kaiowá Guarani



O ano mal começa e chegam as notícias de Mato Grosso do Sul. Adão Gomes, pai do cacique Nisio Gomes, morreu na primeira semana de 2013, aos 87 anos. Partiu sem saber do paradeiro do corpo de seu filho assassinado em novembro de 2011 no tekohá Guaiviry. "Genito comunicou também que o Valmir [filho do cacique Nisio Gomes] sofreu uma ameaça. Ele foi chamado para ir a entrada da área. Disseram que era da saúde. Quando chegou lá tinham várias pessoas com facão, flecha... e o ameaçaram. Ele tentou segurar o pessoal lá, chamou a Força Nacional, mas foram embora. Eles estão muito assustados".

Outra manchete que circula nas redes sociais dá conta do grau de ameaças que pesa sobre lideranças desse povo.

GUARANI-KAIOWÁ URGENTE: Jagunço recebe arma, celular e R$ 600 para matar líderes Kaiowá” (Rede ANAIND).

Sabemos que a estratégia de intimidar as lideranças e as comunidades indígenas em luta pelas suas terras, sempre foi usada pelos inimigos dos direitos indígenas. A diferença que hoje se percebe é que, apesar dos assassinatos, as lideranças externaram sua disposição de não se deixar intimidar pelas ameaças. Continuam resolutas no único caminho que lhes resta, o retorno às suas terras tradicionais.

O ano da terra Kaiowá Guarani

Marta do Amaral Azevedo, presidente da Funai, prometeu publicar pelo menos o relatório do grupo de trabalho de Iguatemipeguá antes que o ano de 2012 terminasse. Não conseguiu cumprir sua promessa. Mas, finalmente, no dia 7 foi publicado no Diário Oficial o relatório circunstanciado da terra indígena Iguatemipeguá I (Pyelito Kuê-Mbarakay). Essa comunidade Guarani-Kaiowá, teve uma das mais incríveis histórias de resistência contra todos os decretos de morte e violência. Conseguiram dizer ao Mato Grosso do Sul, ao Brasil e ao mundo sua inabalável decisão de morrer pelo seu chão sagrado, se preciso fosse. A justiça brasileira, diante do clamor mundial, lhes reconheceu o direito de permanecer em um hectare de terra até que a Funai concluísse o trabalho de identificação. Esse é apenas um passo no difícil processo de reconquistarem partes de seu território tradicional. Que as previsíveis reações do agronegócio, procurando impedir ou retardar ao máximo a devolução das terras aos Kaiowá Guarani, sirvam de estímulo não apenas para continuar a campanha e mobilizações em favor da vida e direitos desse povo, mas nos motive a ampliar as mobilizações para que essa questão seja resolvida definitivamente.

Se o ano de 2012 foi o grande momento de visibilidade, mobilização e solidariedade com os Guarani-Kaiowá, este povo espera que o governo dê passos decisivos, com a urgente publicação das portarias declaratórias, que o Judiciário julgue no tempo mais breve possível as ações que paralisam as demarcações, e que o Legislativo assegure no orçamento recursos necessários para a solução constitucional, justa e decisiva.

Funai reconhece terra indígena Guarani-Kaiowá



Em estudo antropológico, a Fundação Nacional do Índio (Funai) reconheceu como tradicional a terra indígena Iguatemipegua, dos Guarani-Kaiowá, localizada no estado de Mato Grosso do Sul, há 460 km de Campo Grande. O território corresponde a 41.571 hectares. A decisão foi publicada na última terça-feira, 8, no Diário Oficial da União.

Os relatos orais indígenas, registros e documentação escrita comprovam o uso e a ocupação tradicional kaiowá dos espaços territoriais constituído pelas terras da margem esquerda do rio Iguatemi. Está evidente que no século XIX, migrantes paulistas, mineiros, gaúchos e paranaenses começaram a se fixar no estado de MS, dando início a atividades agropecuárias na região, disputando terras e estabelecendo sérios obstáculos à ocupação indígena”, aponta o relatório.

Vivem na região 1.793 índios dos tekohas - territórios sagrados - Pyelito e Mbarakay. Dentre eles 170 indígenas que divulgaram no ano passado uma carta, em que diante da ameaça de despejo pediram ao governo para serem enterrados ali mesmo junto aos antepassados, o que foi motivo de repercussão nacional e internacional.

Após a necessária publicação do relatório no Diário Oficial do Estado de Mato Grosso do Sul e fixação na prefeitura de Iguatemi, correrá um prazo de 90 dias para contestações ao mesmo. Em seguida a Funai terá 60 dias para analisar os questionamentos e encaminhá-los com seu parecer ao Ministério da Justiça, para assinatura de portaria declaratória e posterior demarcação e desintrusão da área. “O relatório comprova que os Guarani-Kaiowá têm mais uma vez todo o direito de cobrarem e exigirem que o Estado reconheça e finalize o processo de demarcação, para que eles possam, enfim ter o acesso e retomar a posse da terra de onde foram expulsos”, reitera Cleber Buzatto, secretário executivo do Cimi.

Cenário nebuloso

O estado do Mato Grosso do Sul é um exemplo emblemático do descaso brasileiro com a questão indígena e tem sido foco de conflitos e mortes na luta pelo reconhecimento das terras indígenas. A lentidão do reconhecimento das terras deixa os indígenas fragilizados e é uma das principais razões para a alarmante violência na região. Só no ano de 2012 foram 55 assassinatos indígenas em todo país, 37 desses no estado do Mato Grosso do Sul, o que corresponde a 67% de todas as mortes em nível nacional, conforme dados preliminares do Cimi. A região também lidera o ranking de ameaças e tentativa de assassinatos.

O governo de Dilma Rousseff tem sido inoperante no que diz respeito ao reconhecimento de terras indígenas, com apenas 10 homologações em seus dois anos de mandato, média anual de apenas cinco homologações, número inferior a todos os governos pós-redemocratização.